sexta-feira, 6 de abril de 2012

Estou errada em não aceitar que ele faça teatro?


Pergunta:

Meu esposo quer fazer teatro e tenho muito ciúmes e não gosto dessa idéia, o que devo fazer? Estou errada em não aceitar que ele faça teatro?

                                                                     (Enviado por Cintia)


Rita:

Querida Cintia,

A resposta no seu caso é não. Você não esta errada de maneira alguma em não aceitar que seu marido faça teatro.

O desejo de fazer teatro é uma parte dele pertencente ao ego de solteiro. É uma parte que ainda não morreu. Muitas pessoas se casam, mas ainda seguem com o ego de solteiro, que é aquela parte do ego que deseja realizar atividades pertinentes à vida de solteiro.

Muitos se sentem frustrados por nunca terem participado numa banda de garagem ou por nunca terem viajado à Europa de mochila. E talvez eles nunca tiveram essa chance porque não tinham tempo ou não tinham o dinheiro. Mas depois, eles decidiram formar uma família e de repente se dão conta que agora sim eles tem o tempo e o dinheiro, mas a família esta no caminho, porque eles já não podem tomar decisões sozinhos.

E fazer teatro é apenas um desses desejos que fazem parte do ego de solteiro que ainda vive no seu marido. Sim, muitas vezes para matar o ego é preciso ter aquilo que se deseja. Essa é uma forma de fazer o ego morrer. Porém, há circunstâncias em que o conflito aparece, como estar casado e desejar agir como solteiro. Nesses casos, é preciso decidir se transformar e tomar consciência de que se esta vivendo uma nova etapa, também cheia de encantos e mistérios a serem explorados.

Claro que não se deve atribuir rótulos, como definir que teatro é sempre uma atividade de solteiro. Há vezes em que os casais se conhecem no meio artístico, que para eles a Existência é a arte. Ele não podem conceber a idéia de suas próprias existências separadamente daquilo que para eles é o mais natural que existe. Também há casais com mentes extremamente abertas, em que a regra é que um jamais pode tentar interferir na vida pessoal do outro. Mas esses exemplos representam um tipo de realidade que não corresponde àquela da maioria e tampouco parece corresponder à sua e a do seu marido.

É evidente para qualquer um que a sua resistência quanto a ele fazer teatro nada tem que ver com o dinheiro que será investido, nem com o tempo que será gasto, mas sim com o fato de ser teatro. Se ele estivesse interessado em aulas de hidroginástica ou num curso de Excel básico, com certeza a situação seria bastante diferente.

Tanto você quanto ele sabem no coração o que esta por trás do curso de teatro: um ambiente no qual ele encontrará pessoas na maioria jovens e solteiras. E a maioria delas não esta interessada em assuntos de casais ou de família, porque simplesmente estão vivendo outra etapa. A maioria está ainda experimentando uma fase da vida diferente da dele e isso vai em direção contrária ao que você quer construir com ele e ao que ele algum dia aceitou que queria construir com você.

Portanto, você tem fundamentos suficiente para expor suas razões ao seu marido. Mas é muito importante que você as exponha claramente, porque se você apenas proíbe algo, é como tomar uma atitude ditadora. Você precisa dar a ele a chance de saber que sua intenção não é controlá-lo, mas sim seguir no caminho que ambos escolheram. E se você quiser fazê-lo entender melhor o que você quer dizer, suponha o exemplo ou diga a ele que você pensou em fazer aulas de dança-de-salão enquanto ele estiver no teatro. Isto para que ele se coloque no lugar em que você esta agora e possa olhar a si mesmo.

E você esta certa em dizer a ele o que você sente em relação a isso, porque muitos parceiros preferem ficar calados para evitar discussão, mas se eles ainda estão frustrados por dentro, ele vão descontar essa frustração de alguma maneira. Ainda que silenciosamente, o ressentimento desse parceiro irá envenenar a relação, o que apenas será pior. No seu caso, você esta ao menos deixando que ele saiba da sua insatisfação e dando a vocês uma chance de que uma decisão em conjunto seja tomada, e que a mesma esteja em consonância com aquilo que é melhor para a vida de vocês como o casal que vocês se comprometeram a ser.

Algo que não só o seu marido, mas muitas outras pessoas também, devem compreender, é que a vida é feita de ciclos, e é necessário consciência para perceber quando um ciclo acabou e que já se esta vivendo em outro, o qual em nenhum sentido é menos valioso do que o anterior. Certamente, se ele fosse um garoto de 16 anos e sua namorada estivesse impedindo-o de fazer teatro, o ideal seria que eles se afastassem, porque ele estaria na fase que existe exatamente para provar estar em diferentes universos e ninguém poderia ter poder sobre ele para que ele deixasse de fazer algo que ele tivesse vontade e que não poderia fazer mal algum nem a ele nem a ninguém.

Mas, no caso do seu marido, tendo em vista que ele escolheu atar laços com a sociedade através de algo tal como o casamento; considerando que ele escolheu uma vida típica a dois, em que há expectativas e cobranças de ambos os lados, a qual é a maneira como são moldados os casais nessa era da humanidade, ele deve direcionar a própria mente e a própria energia para fazer o melhor dessa relação e encontrar a felicidade aí mesmo. Porque no final, a felicidade esta por dentro, e só com a morte do ego é que alguém pode experimentar a felicidade plena.

Buscar a felicidade fora da onde já se esta é apenas parte do ego, então se ele fez uma escolha, ele deve amar essa escolha e é nesse momento que a transformação acontece. É nesse momento que uma parte do ser morre e, para se estar numa relação, não importa quão mente aberta um casal se declare, é preciso deixar morrer uma parte de você mesmo.

Abraços,

Rita Cascia

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